domingo, 10 de abril de 2011

Deprimidos



Senhor.
Se esta dor é o quinhão que me compete, faz com que eu possa suportá-la, abraçando amorosamente esta estranha cruz.
Quando eu estiver em crise, conforta meu coração...
Quando mãos de aço invisíveis apertarem minha garganta, vem em meu auxílio e me concede a dádiva de lágrimas libertadoras...
Quando a escuridão se fizer presente e de breu se travestir minha vida, que haja uma réstia de luz, esperança e consolação, brilhando no fundo do poço...
Quando tudo tiver perdido o sentido e eu me encontrar prostrado e abatido, desejando apenas morrer, que um anjo teu venha me falar de vida, de novas oportunidades e de melhores circunstâncias.
Quando a aridez for tanta, que eu me torne incapaz de dar um sorriso para um filho meu, ou para quem que seja, eleva-me à majestade do teu reino e banha-me nas águas da tua redenção benfazeja...
Quando eu estiver paralisado de terror face aos monstros incompreensíveis de pânico, da culpa, da letargia, da fobia, do isolamento, do ódio auto-direcionado, faz-me lembrar de imediato o que teu amor se coloca acima de todos esses algozes ilusórios, filhos do meu transitório desequilíbrio, e que eu possa nesta hora abandonar-me em ti, na mais irrestrita confiança.
Permita, senhor, que esta dor não me coloque à margem da vida. Antes, que eu aprenda com ela e que dela, eu seja capaz de arrancar o meu aprimoramento...
Quando Senhor, a dor se agigantar de tal sorte, que estando eu vivo, estampe a própria morte, com os pensamentos e sentimentos em convulsão, incapacitado de balbuciar a mais simples oração, assume nesta hora o comando da minha "embarcação" e sem que eu perceba, me conduz a um porto seguro de luz e salvação.
E, se um dia Senhor, eu porventura estiver curado e reabilitado, livra-me de me tornar esquecido.
Que possa eu amorosamente abrir meu coração estender as minhas mãos e ir ao encontro dos meus outros irmãos deprimidos.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Soneto antigo



Esse estoque de amor que acumulei
Ninguém veio comprar a preço justo.
Preparei meu castelo para um ser
Que mal me olhou, passando, e a quanto custo.


Meu tesouro amoroso há muito as traças
Comeram, secundadas por ladrões.
A luz abandonou as ondas lassas
De refletir um sol que só se põe.


Sozinho. Agora vou meus infernos
Sem fantasmas buscar entre fantasmas
E marcho contra o vento, sobre eternos.


Deserto sem ter retorno, onde olharás
Mas sem ver, estrela cega; o rastro
Que até aqui deixei, seguindo um astro.

Triste



Triste é andar no meio da multidão e se sentir só.
Triste é não ver a luz, quando se caminha nas trevas.
Triste é não encontrar nos olhos de um semelhante, um irmão.
Triste é não poder ver o horizonte pois o sol acaba de nascer.
Triste é olhar o presente e não encontrar o passado.
Triste é ter saudade sem saber do que.
Triste é amar e não ter você...